Antigamente, a fama dos vinhos italianos não era muito boa, já que visavam a quantidade e não a qualidade; entenda como essa história mudou com o surgimento de um novo tipo de vinho
Quem me conhece sabe que eu gosto do universo do Vinho. Gosto de conhecer, compartilhar informações e experiências. Geralmente os presentes que ganho ou as viagens que faço estão relacionados ao tema.
Quando há anos eu pensei em executar o projeto do Blog Missão Mulheres do Agro, pensei em trazer uma coluna que falasse sobre o tema, pois vinho não deixa de ser agro. Mas como eu não conseguia ter naquele momento tempo para escrever sobre isso, então decidi que o blog tinha que estrear com uma matéria falando sobre vinhos portugueses, até porque sou descendente lusitana. O tema deu tão certo,que precisei publicar um outro texto para poder falar sobre algumas dúvidas e comentários que foram feitos.
Essa semana, após rever umas fotos de uma viagem que fiz à Itália e ter sonhado com uma paisagem linda de um vinhedo na região sul de Portugal, decidi escrever novamente sobre vinhos.
Mas eu não queria que fosse um texto simples, ou sugestivo, e nem de perto tivesse um viés marketeiro. Queria ao falar sobre algo que gosto, trazer de forma lúdica um pouco de conhecimento.
Eu pensei, pensei e acho que vou começar esse texto assim…
Se em alguns países há 60, 70 anos, servir vinho italiano em jantares formais era sinônimo de gosto duvidoso, hoje vivemos dias com um conceito bem diferente a esse.
Essa leitura sobre os vinhos italianos mudou a partir da transformação do conceito de vinhos produzidos em massa, independente da qualidade.
Antes, as práticas estabelecidas objetivavam quantidade. Muita uva por metro linear, muito vinho, produção grande com pouca qualidade, preço baixo o que fazia novamente o produtor buscar uma próxima produção em quantidade. E aí, nesse sistema, os vinhos italianos ficaram anos seguidos fadados à certa mediocridade.
Não, por favor não se irrite e não me xingue, pois, a culpa não é minha. Como uma admiradora de vinhos, pois nem sommelier eu sou, eu apenas estou traduzindo aqui o que nossos antepassados, que também apreciavam vinho, falavam. E eu posso dizer que quando eu li “A Arte de Beber”, de Marcelino de Carvalho, também senti certa irritação.
Voltando à história, o movimento de transformação que revolucionou o vinho italiano teve origem há 6 décadas no norte da Itália, na região da Toscana, sendo liderado pelo produtor Marquês Piero Antinori.
Ao assumir os negócios da família (olha aí o tema sucessão no agro gente), Antinori viu-se insatisfeito com a baixa rentabilidade dos seus vinhos e as muitas regras e exigências para produzir o Chianti. Aqui uma curiosidade: para ser considerado um chianti, o vinho deve ter pelo menos 70% da casta sangiovese – uva produzida na região e 10% de uvas brancas italianas, e observando a proibição de castas tintas que não fossem de origem italiana.
Antiori, rompeu tradições e, orientado por um enólogo, inovou ao promover mudanças técnicas como a adição de castas como cabernet e merlot em suas produções. Ele teve como inspiração o Marquês Mario Incisa della Rocchetta, que 20 anos antes de Antiori buscou a produção de um vinho reconhecido, e foi assim que Antiori é hoje tido com o pai dos Supertoscanos, vinhos que começaram a ser produzidos não observando as normas de produção da Denominação de Origem da época, a Chianti.
Foram anos de inovações em conjunto a um cultivo de grande cuidado para que em 1942 ficassem prontas as primeiras garrafas de Sassicaia. Aqui. uma outra curiosidade: no início o vinho fora produzido somente para consumo familiar e a primeira safra comercializada foi de 1968 após a criação da Denominação de Origem Controlada para os Supertoscanos 1967.
Essa transformação no produzir, que gerou desgastes, aflições, questionamentos mostrou-se assertiva à medida que os vinhos da produção de Antinore eram de excelente qualidade e atraiam olhares interessados de outros produtores da mesma região. Com isso, a transformação observada em uma família produtora alcançou interesse e adesão dos produtores locais que observavam a melhoria de qualidade e preço.
Para finalizar, quero fazer um paralelo desse processo de mudança da Denominação de Origem do Supertoscano com momentos e situações das nossas próprias vidas.
Muitas vezes estamos descontentes com uma situação ou vivemos um cenário morno ou ruim e por ser cômodo continuamos a viver daquela maneira por que as consequências da mudança assustam ou incomodam. Outras vezes achamos que precisamos ser 100 % nós e descartarmos a influência ou o peso de terceiros. Muitas vezes nossa zona de conforto nos cega e se não somos corajosos para olhar fora dessa bolha e observar possibilidades, continuaremos ali e muito possivelmente fadados a uma certa mediocridade, igual à mediocridade daquele vinho há 70 anos.
Mudanças irritam, incomodam e fomentam dúvidas durante o processo, mas costumam nos transformar em pessoas melhores. Nesse sentido, eu decidi ser esse supertoscano aí e me provocar a viver processos de renovação, recriação. E neles eu tento diariamente romper conceitos limitantes que tenho sobre mim mesma. Não é fácil não, mas estou no caminho de uma safra de qualidade, talvez muito em breve numa millésimé e se eu puder despertar em você algo melhor, que seja agora e que seja através dessa reflexão sobre os vinhos italianos do passado e dos atuais… Não tenha medo de se reinventar, não tema a inovação.
E se possível me diz se você já teve a oportunidade de tomar um Sassicaia… Eu já… Aproveitei uma vez que fui aos Estados Unidos e o dólar estava numa ótima relação e tomei “uma tacinha de 20 ml” de uma safra premiadíssima em uma loja em Winter Park, super famosa por receber apreciadores de vinho que querem tomar um bom rótulo pagando fracionado.
Adicionar comentários