A primeira semana de junho inicia de forma bastante preocupante mundialmente. Esse primeiro pregão de junho trouxe à tona a escalada da tensão entre Estados Unidos e China que vive em meio a uma Guerra Comercial, embora exista sim um acordo fase 1 homologado, porém cheio de dúvidas, ataques e cutucões mútuos e vazio de demanda comercial.
Enquanto China compra alimentos de origem norte americana a conta gotas, segue acompanhando ofertas, embarcando compras antigas e realizando novos volume do grão brasileiro. Só entre os dias 26 a 28 de maio foram pelo menos 14 navios comercializados.
Nos ataques cruzados, temos operação com bombardeiros norte americanos em Mar da China, acusações a empresas chinesas e medidas para bani-las das bolsas dos EUA, declarações sobre coronavirus, OMS, Taiwan e China.
Na última sexta feira, 29, algumas pessoas me perguntaram qual era a minha análise sobre a sobre o discurso inflamado de Trump sobre OMS e medidas restritivas com China? Algumas ainda insistiram se eu não achava que era positivo que mesmo após tantas ameaças, o presidente dos EUA não tenha rompido com China…
A essas perguntas eu respondi que Estados Unidos estavam seguindo um caminho que em curto prazo poderia não ter volta.
Durante o final de semana eu conversei com vários profissionais de mercado e de diversos segmentos e todos se mostraram muito preocupados. A razão era em grande parte pela escalada da guerra comercial e também pelo clima conturbado com o caso recente da morte de cidadão norte americano em Minessota que reacendeu discussões importantes daquele país.
Quanto a preocupação na vertente agro, eu compartilho aqui com vocês minha interpretação.
Meu entendimento é que as declarações de Trump tinham uma finalidade e que de certa forma era provocar a China para uma reação. E a China assim o fez.
Eu não consigo imaginar que ele, em seu quarto ano de governo não soubesse que a sua fala provocaria reações. Trump sabia que ao se posicionar firme daquela maneira estava sim assumindo o risco de sua postura. Trump está em final de exercício de governo e teve que lidar com as consequências da corona vírus que fizeram os números de emprego atingirem níveis recordes históricos naquele país. Em plena janela pré-eleitoral Trump não quer ser lembrando como o presidente que perdeu a guerra comercial para a China. Prova disso é que vem alertando que China prefere que o candidato rival, do partido democrata ganhe as eleições para então negociar um bom acordo.
E logo com as declarações forte de Trump na sexta seria natural antecipar que China faria a contra partida, e assim o fez.
O mundo amanheceu com as agências internacionais de notícias anunciando que China suspendeu as importações de produtos agrícolas dos Estados Unidos. O país determinou que suas estatais suspendam importações soja e de carne suína, enquanto o governo possa avaliar melhor essa situação de tensão política. Inclusive hoje fontes do mercado processavam que já teriam sido reportadas operações de cancelamento de carne suína.
Essa decisão da China deve impactar novamente em prêmios mais fortes aqui na América do Sul e caso a decisão seja mantida por tempo maior, o Brasil deve se beneficiar ainda mais com esse cenário.
Tendo dito isso, visualizo que o Agronegócio do Brasil tem pela frente uma nova e importante tarefa. O mercado brasileiro precisa estudar a viabilidade de importação do grão norte americano. Em 2018 muito se discutiu sobre essa possibilidade. Desde exigências burocráticas até capacidade de descarga de granel nos portos brasileiros. O assunto ficou em modo de espera porque naquele momento China impactada pela febre suína africana passou a desacelerar compras. Em paralelo havia estoque mesmo que de forma limitada e logo na sequencia entraria uma outra grande safra na América do Sul.
Penso e defendo que o Brasil deva seguir nessa linha. Nesse momento de crise econômica foi o Agro que representou a diferença através dos números da balança comercial e será esse agro que aproveitará com agilidade todas as oportunidades oferecidas.
Para os EUA pouco importarão quem comprará seu grão. Brasil, China ou Europa… Basta apenas que exista demanda.
Aqui no Brasil, o mercado físico e de prêmios o Brasil promete uma semana curiosa e agitada. Indústrias, tradings e das empresas que originam para elas devem focar em seus levantamentos de comercialização e estoques.
Eu aqui só posso dizer que sigo torcendo pela viabilidade logística e comercial da importação, uma vez que não basta apresentar condições logísticas sem condições comerciais e documentais.
Seguiremos analisando todos os desdobramentos políticos pelas consequências que podem representar para o Brasil, mas quero aproveitar o momento, para destacar a importância do hedge quando se trabalho com agro. Se em situação de normalidade média, a especulação já é perigosa e oferece riscos, em momentos como esses a especulação é uma ferramenta que pode determinar prejuízos gravíssimos aos seus negócios. Portanto evite negociações especulativas e proteja seus negócios.
Abaixo compartilho vídeo que subi no Youtube em que falei sobre o mesmo tema.
Um abraço e ótima semana a todos nós.
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