Por que os prêmios para soja cederam na semana passada?
Essa foi a pergunta que eu mais escutei desde o pregão de quarta-feira, dia 24 até sexta feira, 26.
Cheguei até a contribuir em uma entrevista no Canal do Boi na sexta feira e fiz um vídeo no meu canal no Youtube nesse mesmo dia.
Lá eu disse não atribuir a queda a apenas um fator e sim a um conjunto.
Muito se falou da desvalorização cambial e é fato que um dólar mais alto gera competitividade e isso acaba pressionando preços na bolsa ou mercado de prêmios, dependendo do momento e da situação de mercado. Mas novamente eu relembro que no auge da alta do dólar, presenciamos a moeda colar na casa dos 6,00 e não vimos os prêmios não cedendo. Naquele momento China estava no mercado comprando, lembra?
A minha interpretação para a retração dos prêmios da semana passada foi pelo fato da China ter passado 2 dias de folga, celebrando uma data tradicionalmente importante. O festival do dragão e salvo algumas exceções que presenciamos em 2018 e 2019, no auge da guerra comercial, China costuma respeitar as tradições e sai do mercado.
Vale destacar que China está recebendo um grande fluxo de carregamento vindo do Brasil o que repercute em prêmios não tão valorizados nos embarques mais curtos.
Conversei com alguns analistas e traders que negociam na Europa e alguns deles acreditam que China já teria garantido um bom volume para recompor estoques e que estaria com coberta em compras.
Também precisamos colocar nessa conta que o país comprou nos meses de maio e junho dos Estados Unidos um volume interessante se comparado ao que vinha sendo reportado. E essa postura comercial ocorre pois o mundo inteiro sabe que o Brasil não terá soja suficiente para garantir o fluxo necessário que a China precisa durantes os meses de setembro a janeiro.
Também não se pode deixar de contextualizar que dada uma pandemia existe uma preocupação elevada sobre uma possível segunda onda da doença na China e com isso uma desaceleração econômica.
Sobre os prêmios no Brasil sempre importante pontuar o país deve ter entre 85 a 90% da safra comercializada e as tradings que são as empresas que exportam também parecem estar bem compradas. Logo o que pode facilmente acontecer é que dada a cobertura de posição comprada da China, seria a indústria brasileira a disputar o saldo da soja no Brasil.
Quando se analisa a safra 2020/ 2021 o Brasil apesar de bem vendido deve continuar sim aproveitando oportunidades de prêmios e câmbio uma vez que tem condição de ampliar o quadro de oferta do país na próxima temporada. Certamente que os negócios serão cada vez mais estudados o que exige um acompanhamento mais cauteloso dos participantes.
Reforço que esse acompanhamento deve acontecer no dia, mas entendo que precisamos ter um olhar cada vez mais macro especialmente nesse ano que vivemos tempos diferentes e ainda sob a vigência de uma guerra comercial. A chave da linha que Trump adotará em sua campanha presidencial pode mudar completamente o status atual.
Trump pode ir para o tudo ou nada caso não obtenha no curtíssimo prazo da China o que precisa que são as famosas compras em peso de alimentos dos Estados Unidos. As compras ajudariam a irrigar a economia dos EUA que sofre com a perda de mão de obra no mercado de trabalho.
Uma China estrategista pode estar direcionando Trump a caminhos aonde ele não terá escolha senão romper o acordo fase 1. China com isso arriscaria a possibilidade de discutir termos da guerra comercial com um presidente democrata.
Uma ótima semana a todos e bons negócios.
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