Para quem assim como eu, estava um pouco cansada de só escutar o termo Guerra Comercial como justificativa para a oscilação dos preços da soja na bolsa de Chicago, enfim pode “comemorar” a entrada de outros dois fatores que já deram muito o que falar.
“Gripe Suína Africana” e “Mercado Climático” nos Estados Unidos passaram a ganhar espaço na mídia e nos corredores de Chicago desde a véspera do feriado pascal e prometem momentos de volatilidade nos preços das commodities agrícolas.
E embora autoridades chinesas insistissem em afirmar nos últimos seis meses que tudo estava sob controle e que os produtores locais vinham sendo estimulados a fazer os testes do vírus em seus plantéis para controlar a doença que se alastrava, nas últimas duas semanas vínhamos alertando os clientes da consultoria da Labhoro sobre a gripe suína africana estar caminhando para um cenário de descontrole.
Só para enriquecer o texto, a China tem o maior mercado de carne de porco do mundo e produz cerca de 55 milhões de toneladas de carne e processados ano. Impactante né?
E agora se eu afirmar que a produção dos chineses equivale à metade da população mundial de porcos. Impacta né?
Ainda mais porque atualmente todas as províncias reportam casos de morte por gripe africana e o alto índice de mortalidade nos plantéis repercute na queda do consumo de proteína para ração animal.
Dito tudo isso agora me responda porque então China precisaria comprar mais soja se a demanda por farelo de soja no mercado interno vem caindo dia após dia com a crescente mortandade dos suínos?
Bingo! Essa é a razão pela qual chineses não buscam ofertas volumosas de soja no Brasil, Argentina e muito menos fizeram a tão prometida compra dos Estados Unidos que Trump alardeou em suas redes sociais?
Paralelamente as medidas que os chineses adotam para conter e controlar a contaminação, a China vai às compras de carne de porco congelada dos Estados Unidos ao invés de repor plantel. E com isso o consumo de proteína utilizada para ração cede rapidamente e desequilibra o quadro de oferta e demanda de farelo de soja. Isso por sua vez impacta na demanda pelo grão.
- Aqui um parênteses: Caso as compras de carne de porco e aves intensifiquem, o que parece ser o cenário, o Brasil também pode ser favorecido como origem e isso é tarefa para a Missão do MAPA à China agora início de maio – A Ministra Tereza Cristina declarou essa semana que a China já solicitou informações adicionais sobre plantas de carnes e deve voltar ao Brasil para novas inspeções.
E essas compras dão um peso extra ao mercado ainda mais quando somado aos efeitos de 13 meses de plena Guerra Comercial. China ausente dos Estados Unidos, abastecida no Brasil e com peso de ofertas da Argentina que se prepara para colher a soja de uma safra grande.
O segundo fator que começa a alarmar no radar do mercado é o Clima nos Estados Unidos – o famosinho Weather Market – afinal está aberta a temporada de plantio da temporada 2019/2020 no hemisfério norte.
A temporada nem bem começou e já vimos de tudo nessas 3 semanas: Nevascas, degelo repentino de neve, chuvas fortes, tornados, alagamentos sérios, transbordos submersos e mais neve de novo. Ufa…
O mercado que tinha tudo para se beneficiar da decisão dos produtores de reduzir com maior intensidade as áreas de plantio de soja, foi na mão contrária e já especulou precocemente atraso no plantio de milho, o que poderia impactar em maior área de soja.
E para piorar um pouco mais já especulou que o clima seria adverso até final de maio, com chuvas acima do normal e temperaturas abaixo do normal, mas o que hoje causa maior impacto é que as chuvas em excesso e as temperaturas baixas deram trégua e que as máquinas começam a voltar aos campos que alguns fundos começaram a vender a ideia de Clima ideal para plantio de milho e de soja. E a gente sabe que os fundos ganham pela média e apostam pesado e a cada oportunidade fazem girar a ciranda das apostas e colocam dinheiro nos bolsos.
Quando eu disse lá em cima que enfim podemos “comemorar” a entrada de mais fundamentos no mercado da soja, eu não quis dizer que eram fundamentos positivos, mas pelo menos agora, temos algo mais para trabalhar e processar que o cansativo e manjado fundamento: Guerra Comercial.
Nos vemos por aí!
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