Após a recente queda no preço da soja em Chicago, o grão encontrou suporte com compras técnicas.
Em 11 pregões os preços cederam até sexta-feira, dia 01, quase 60 centavos o bushel.
Numa primeira etapa, a queda foi impulsionada pela ausência de demanda chinesa mesmo após a oficialização do acordo da fase 1 da Guerra Comercial.
Os participantes do mercado em geral (investidores, especuladores, indústria, tradings, consultores, produtores, entre outros) passaram a questionar como a China conseguiria cumprir as elevadas metas de compra de produtos dos EUA.
Lembrando que a China deixou claro que faria isso de maneira a não prejudicar outros parceiros comerciais e já havia adquirido através de negociações anteriores ( 2019), um volume bastante significativo de soja brasileira e argentina; e salvo se recomprasse soja aqui ou renegociasse com as tradings a troca de origem de embarque (portos da América do Sul por Portos norte-americanos), o país poderia absorver volume no curto e médio prazos.
Num segundo momento, o tom baixista foi determinado pelo aparecimento do coronavírus e a escalada crescente no número de casos as vésperas de um dos mais importantes feriados na China, o Ano Novo Lunar.
A evolução da doença foi tamanha que as autoridades chinesas adotaram medidas extremas como a quarentena em cidades/províncias que concentravam os casos. O governo também decidiu estender o feriado e por essa razão muito se especulou como seria a reabertura dos negócios na Bolsa de Shangai nessa última segunda, dia 03.
Com a retomada dos negócios de forma melhor que a prevista ( baixa de 7.7%) e com o anúncio de injeção de recursos para dar liquidez ao mercado acionário e cambial na China, os investidores se sentiram menos incomodados.
A China deixou claro que contava com a colaboração dos Estados Unidos como parceiro (que no momento estava pressionando comercialmente) e tendo em vista que o mercado passou a processar que o acordo fase 1 contempla ajustes em caso de força maior, os preços da soja encontraram espaço para uma discreta correção.
Em três dias (segunda a quarta) a soja recuperou 7, centavos dos 57 que havia cedido.
A fala de terça feira do Diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, conferiu maior otimismo sobre a manutenção do acordo da fase 1.
Ele afirmou que os Estados Unidos sabem que o episódio coronavírus atrasará o fluxo de exportação para China, mas que isso não deve impactar a continuidade dos trabalhos das próximas fases.
Em vários países, incluindo Estados Unidos, Brasil e Argentina, circularam comentários sobre China estar usando o coronavírus como ferramenta para fazer os preços cederem. Segundo a tal teoria da conspiração a China teria a oportunidade de comprar produto mais barato.
Acompanhando todas as etapas dessa guerra eu descredito totalmente dessa interpretação. China é habilidosa em suas negociações, atenta às oportunidades de mercado, tanto e que por muitas vezes não avançou nas tratativas da fase 1 por adotar estratégias que a beneficiasse, assim como os Estados Unidos, mas não ao ponto de colocar sua imagem em xeque trazendo para a guerra comercial uma doença tão preocupante e que acomete a humanidade como o coronavírus.
A guerra envolve muito mais impactos do que somente a soja. No Brasil são vários tipos de proteína animal e vegetal, minério de ferro, café, celulose, petróleo bruto, algodão, couro, cobre.
Nos Estados Unidos, aviões, carros, material hospital, ótico e médico, eletrônicos, entre outros no segmento de serviços.
As próximas semanas serão importantes para clarear a tendência dos preços.
Acompanhar a evolução da doença e os impactos que causarão a demanda e a economia naquele país é fundamental.
Estejamos todos atentos as oportunidades que surgirem.
Para entender a relação da doença com as commodities acesse o link abaixo:
Entenda a relação entre o Coronavírus e as Commodities – Parte I
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