30 de outubro de 2024

Dia da Melancia – 26 de Novembro

Melancia: saúde e frescor em cada fatia

Com 90% de água e muitos nutrientes em sua composição, a melancia é uma das frutas mais recomendadas para os dias de calor.

Quem nunca participou de brincadeiras de adivinhação sobre frutas quando criança? E nessas rodas de amizade não respondeu à pergunta: é verde por fora, vermelha por dentro e com um monte de sementinhas pretas? Puxando na memória, a maioria de nós pode dizer sim à essa questão. Mas vocês sabiam, que essa fruta (que em algumas literaturas do segmento é considerada hortaliça) a qual lembra infância, calor, mãos e rosto melados, tem um dia especial para chamar de seu? Então, dia 26 de novembro é o Dia da Melancia!

Relatos históricos apontam que a melancia – (Citrulluslanatusvar.lanatus), que é uma fruta da família das cucurbitaceas, da qual fazem parte o melão e as abóboras – é originária da África, com os primeiros registros de seu uso como alimento datados de 5.000 anos atrás, pelos egípcios. Estudos mostram que a fruta se espalhou pelo mundo, por meio do Mar Mediterrâneo. Por volta do século 10 foi levada para a China (país que, atualmente é o maior produtor do mundo). No século 13, começou a ser cultivada em diversas regiões da Europa e no século 16 chegou ao continente americano. No Brasil, estudos mostram que a cultura foi introduzida durante o ciclo econômico da cana-de-açúcar, tendo as regiões Nordeste e Sul como ponto de partida para o plantio pelo restante do País.

Em solo nacional, a partir da década de 1990, ocorreu uma grande expansão do mercado interno da melancia devido, principalmente, à mudança de hábitos alimentares da população, em busca por uma alimentação mais saudável. Nesse contexto, a opção dos consumidores por alimentos proteicos e de baixas calorias privilegiou a melancia, promovendo um marketing positivo, devido ao seu baixo teor calórico. Além disso, a qualidade da fruta produzida em alguns estados brasileiros possibilitou um aquecimento nas exportações. “A consolidação dos mercados de melancia (interno e externo) vem impulsionando a produção brasileira, que hoje está entre as maiores do mundo”, avalia Hélio Satoshi Watanabe, engenheiro agrônomo do Centro de Qualidade de Hortigranjeiros, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Entre as diversas frutas comercializadas no Brasil, a melancia tem destaque tanto em volume quanto em valor econômico. Segundo Watanabe, em 2019, na Ceagesp, 123 atacadistas comercializaram 125.110,23 toneladas de melancia, originárias de 15 estados e 189 municípios.“Em nível nacional, no mesmo período, dados do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nas Centrais Estaduais de Abastecimento (Ceasas) que fazem parte do sistema, foram comercializadas 514.098 toneladas”, informa o agrônomo, destacando que estatísticas da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) mostram que, em 2019, o Brasil exportou 102.857 toneladas de melancia, principalmente para alguns países da América do Sul.

Sobre a produção nacional, Fernanda P. B. Furlaneto, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) – Polo Centro Oeste – Unidade Marília, destaca que os números já ultrapassam 2,2 milhões de toneladas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Cultura da melancia sob o olhar da extensão rural

O clima e as condições edafoclimáticas favoráveis possibilitam a produção de melancia praticamente em todo o território nacional. Segundo o IBGE, em todo o Brasil existe uma área plantada de melancia de mais de 100 mil hectares, tendo Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo como os maiores produtores.

Em solo paulista, a maior região produtora está localizada em municípios abrangidos pela Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) – Regional Marília. “Nos últimos anos, verificamos uma retração tanto no número de produtores quanto na área cultivada, fato que se deve principalmente à configuração da cultura na região que é trabalhada, principalmente, por pequenos produtores em áreas arrendadas, as quais, nos últimos períodos, foram destinadas mais aos cultivos de eucalipto, pastagem, cana e amendoim. Apesar disso, temos 40 produtores que, em cinco municípios, cultivam a fruta em 2.180 hectares, com uma produção média de 30 toneladas por hectare. Então, como extensionistas, temos investido em ações de assistência técnica para fortalecer os produtores e a produção dessa fruta tão importante para as economias locais e regional”, explica Tiago Girotto, engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de Oscar Bressane, município onde 20 produtores cultivam melancia em 800 hectares e que tem, em seu calendário oficial, uma festa anual para difusão e valorização da atividade, a qual só não foi celebrada neste ano, por conta da pandemia.

Segundo o agrônomo, a variedade mais plantada na região é a Manchester, que tem casca dura, polpa vermelha, padrão de tamanho e resistência ao transporte. “Essa cultura é muito interessante para os pequenos produtores, pois mesmo o cultivo em pequenas áreas, caso não haja imprevistos graves, gera rentabilidade e emprego, por conta de sua colheita ser toda manual. No entanto ela exige conhecimento afinado para que se tenha sucesso – sendo um dos pontos-chave o corte da fruta madura -, o que só é adquirido com muita experiência, após anos de cultivo; e não são todos os que realmente conhecem o momento exato desse procedimento, por isso a importância dos contínuos acompanhamentos técnicos e troca de experiências entre os produtores”.

Em Oscar Bressane, o produtor Antonio Matos Aguiar está no grupo dos que investem no combo conhecimento, tecnologia e gestão para ter sucesso na atividade. “Sem dedicação, trabalho árduo, tecnologia e gestão é impossível ser agricultor, principalmente produtor de melancia”, ensina Tonho do Tota, como é conhecido na cidade, resumindo o lema do trabalho, que o levou de um hectare de melancia cultivado há mais de 20 anos, para o posto de um dos maiores produtores da fruta na cidade, com mais de 140 hectares anuais e uma produção média anual de mais de 4,2mil toneladas.

“O Antônio é uma referência em nossa região, estando hoje apto a transmitir conhecimento. Mas ele começou de forma modesta, arrendando um ou dois hectares no sítio do meu pai, usando emprestado o seu trator, e com apoio técnico da Casa da Agricultura. Hoje, tem irrigação de carretel, acompanha as condições climáticas, os canais de comercialização, as oscilações de preço, faz cálculos dos custos de produção etc., ou seja, tem uma gestão profissional do seu negócio. Trabalhando ao lado da esposa, conseguiu comprar sítio, trator, implementos e ampliou a área arrendada. Em época de plantio e colheita, eu digo que ele, literalmente, ‘acampa na roça’ e acompanha grama por grama de cada fruta. Ele é um exemplo de que trabalho sério aliado à paixão pela agricultura e ao investimento em tecnologia, em uma cultura que gera rentabilidade, trazem grandes resultados e qualidade de vida”, comenta Tiago.

Sobre o cultivo. Atualmente, o cultivo de melancia é feito, em sua maioria, em pequenas propriedades, mas também há grandes empresas agrícolas que atuam no segmento. Extremamente adaptável, a melancia se dispersou por quase todo o mundo. “A propagação da melancia é feita por sementes. A cultura produz bem em solos com boa drenagem de água e disponibilidade de água durante todo o ciclo. Sendo assim, cada vez mais os produtores estão investindo em irrigação para ter sucesso nessa lavoura”, explica o engenheiro agrônomo Tiago, da Casa da Agricultura de Oscar Bressane, informando que o plantio é feito praticamente ao longo de todo ano, sendo que a safrinha vai de janeiro a fevereiro e a safra, de julho a agosto. “Já a colheita da safra vai de outubro a novembro; e a da safrinha, de março a abril”.

A melancia é, talvez, uma das maiores entre todas as frutas existentes. Em condições normais de produção, seu peso médio pode variar entre 12 e 20kg de pura água. O seu pólen, como da maioria das cucurbitáceas, é pegajoso, o que impede que seja levado pelo vento, sendo abelhas e vespas as principais responsáveis pela polinização.

A seguir, dicas do extensionista para quem deseja iniciar na atividade:

  • ter acompanhamento técnico; visitar e conversar com produtores da região onde deseja plantar;
  • identificar as variedades ou os híbridos maisadaptados às condições de produção e quais são recomendados para a região em que será plantada, observando as preferências do mercado consumidor;
  • identificar a disponibilidade de mão de obra na região;
  • separar capital para investir em sistemas de irrigação;
  • estudar bem os canais de comercialização.

 

Melancia na alimentação: saúde e refrescância para todas as idades

A melancia tem uma excelente aceitação, sendo uma fruta muito presente na mesa dos brasileiros, consumida geralmente ao natural, como opção saudável, podendo ser oferecida nos mais diferentes formatos: triângulos, pirâmides, cubos ou até mesmo bolas, que podem ser preparadas com um utensílio conhecido como “boleador”. “Ela se destaca entre as frutas pela sua suculência e doçura. Outra qualidade bastante apreciada é o frescor, indicado pelo aspecto “crocante” quando a fruta é mastigada. Por esse motivo, a melancia é uma das frutas mais refrescantes que existem. Na verdade, em situações de extremo calor, como em meio ao sol do meio-dia do verão tropical, uma fatia de melancia é excelente para repor os líquidos perdidos pela transpiração”, avalia Beatriz Cantusio Pazinato, nutricionista da Secretaria e diretora da Divisão de Extensão Rural (Dextru), da CDRS, acrescentando que a suculência se deve à presença de 90% de água e a doçura por possuir carboidratos, que embora em pequena quantidade (8%), são suficientes para contribuir com essa característica. “Além disso, a melancia tem poder de saciedade e oferece poucas calorias em cada porção consumida, ou seja, menos de 35Kcal por 100 gramas, por isso é tão comum nas dietas de emagrecimento, inclusive possui fibras alimentares e não contém gorduras”.
A nutricionista ensina que, na culinária pode-se abusar da criatividade e usá-la em diferentes receitas, como ingrediente de doces, sucos, geleias, drinks, molhos e saladas. Outra variação é fazer doce com a parte branca, que se prepara da mesma forma que o doce de mamão verde. “Com a chegada dos dias quentes de verão, experimente colocar pedaços de melancia numa taça e sobre eles acrescentar o iogurte de sua preferência e decorar com folhas de hortelã. Outra opção saudável e nutritiva é preparar sucos, podendo acrescentar um pedacinho de gengibre para dar um diferencial levemente picante, muito apreciado por adultos e crianças”.

Quando o quesito é saúde, Beatriz destaca os seus nutrientes. “A cor vermelha da melancia é um grande atrativo, mas o que poucos sabem, é que o licopeno – pigmento natural da fruta, que confere essa coloração – desempenha propriedades funcionais e antioxidantes, que ajudam a combater os radicais livres responsáveis pelo envelhecimento e/ou danos ao DNA das células, bem como prevenir ações inflamatórias do organismo que são prejudiciais e até precursoras de muitas doenças crônicas”.

Dentre os minerais que a fruta possui, a nutricionista aponta os que possuem maior teor: magnésio, manganês, potássio, cobre e zinco, que contribuem para regular as nossas atividades metabólicas e manter o bom funcionamento de todos os órgãos do corpo. O magnésio faz parte da respiração celular e atua na transmissão dos impulsos nervosos, do metabolismo dos ossos e também na cicatrização; o manganês ajuda na interação e absorção dos nutrientes. O potássio contribui para o equilíbrio ácido básico, transmissão de impulsos nervosos, contrações e movimentos dos músculos; além disso, regula os batimentos cardíacos e a pressão arterial, sendo muito importante para a manutenção dos líquidos do corpo. E, por fim, o cobre é essencial na produção de hemácias, na formação do tecido conjuntivo, fibras nervosas e pigmentação da pele; também promove a absorção do ferro, sendo também componente de várias enzimas.

Dicas para comprar melancia
Uma melanciade boa qualidade tem casca firme, lustrosa e sem manchas escuras. As manchas claras não são sinais de um produto de má qualidade.
Para determinar se a melanciaestá ou não madura não é fácil, pois sua casca é dura e espessa. Um bom método é dar uns “soquinhos” com os nós dos dedos: se a fruta ainda estiver meio verde, o som sairá um pouco metálico. Do contrário, quanto mais grave for o som que vier da fruta, mais madura ela estará. Comparando duas frutas do mesmo tamanho, a opção deve ser a mais pesada.
Por conta de seu tamanho, normalmente a fruta é comercializada cortadas em pedaços, quartos ou metades. A escolha deve ser pelas bem vermelhas e brilhantes, pois quanto mais escura a polpa, mais doce ela será.

Dicas de conservação
Fora da geladeira, a melancia se conserva bem durante uma semana, guardada em lugar fresco e arejado. Depois de cortada, deve ser conservada na geladeira, envolvida em plástico ou papel de alumínio, para evitar que resseque ou absorva o odor de outros alimentos. Conserva-se em geladeira por duas a três semanas.

Curiosidades sobre o consumo da melancia no mundo
Nas regiões áridas da África são consumidas como fonte de água.
As sementes são muito consumidas em diversas regiões da Ásia. Na Índia, se faz pão de farinha de sementes de melancia. No Oriente Médio, comem-se as sementes assadas.
Na Rússia meridional, uma cerveja tem suco de melancia como ingrediente.
Nos Estados Unidos costuma-se fazer picles com a casca da melancia.
Existem três grandes tipos de melancias: melancias de polpa amarga, cultivadas na África por suas sementes, que são fritas antes de serem consumidas; melancias forrageiras, cuja polpa é branca e não açucarada, sendo utilizada na alimentação animal; melancias de polpa açucarada, ricas em água e consumidas como alimento humano.
No Japão, produtores têm produzido melancia em diferentes formatos.

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