Foi uma semana difícil de se decifrar. Uma semana estratégica e cheia nuances e particularidades.
Segundo o The Wall Street Journal divulgou no meio da semana, a China teria através de tradings com participação estatal, suspendido embarques próximos de produtos agrícolas de origem norte americana em razão da escalada de tensão entre os dois países.
As informações seriam de um executivo chinês ligado ao setor marítimo e segundo ele por enquanto apenas tradings estatais adotaram essas decisões, mas não descartava a possibilidade de compradoras particulares também adotarem as mesmas medidas. Os embarques suspensos são de milho, carne suína, algodão e soja e os motivos para tais decisões seriam os protestos pró democracia envolvendo Hong Kong e as consequências de declarações envolvendo a pandemia do coronavírus.
Em paralelo, o presidente dos Estados Unidos, que enfrenta uma crise sem precedentes, está em plena campanha eleitoral e vem fazendo declarações bastante intensas sobre a forma como a OMS conduziu o assunto e vinha cobrando da organização explicações pela demora em divulgar informações do acompanhamento da doença na Ásia. Além disso, Trump recentemente fez ameaças sobre pleitear à China indenização pelos prejuízos financeiros causados pelo coronavírus.
Na fila dos episódios que escalaram a tensão, destaque para as manobras militares norte-americanos no sul do Mar da China e ameaças sobre imposição de sanções a Hong Kong após China ter recentemente aprovado a lei de segurança nacional além da promessa de revisão da entrada de cidadãos chineses nos Estados Unidos.
Em postura observadora, China afirmou que adotaria medidas firmes e deixou o mundo inteiro se preguntando se o acordo da fase 1 da guerra comercial estaria ameaçado.
No entanto, tirando as matérias divulgadas por algumas agências de notícias sobre suspensão de compras e de embarques, não houve qualquer anúncio oficial de medidas chinesas. E isso só fez aumentar ainda mais as especulações uma vez que o que se esperava era uma China apática e pouco interessada por alimentos dos Estados Unidos, ainda mais quando China tinha acabado de comprar 15 cargos de soja de origem brasileira.
Porém surpreendendo novamente ao mercado, China veio às compras e mostrou-se bastante ativa e interessada pela soja dos Estados Unidos.
Na terça, o USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos reportou a venda extra de 2 cargos para a China e na quarta, quinta e sexta foram reportadas respectivamente vendas de 186, 120 e 588 mil toneladas de grão para Destinos Desconhecidos – e aqui um parênteses: nas negociações envolvendo Soja, o mercado processa que Destino Desconhecido é o mesmo que China.
Na quinta feira, 04, o órgão divulgou no relatório semanal das vendas agrícolas. O levantamento mostrou novamente a participação ativa da China.
Na safra velha (2019/2020) foram vendidos 495 mil tons de soja. Embora seja a venda mais baixa das últimas 6 semanas, mostra o interesse da China para 201 mil tons, embora tenha cancelado uma compra de 66 mil tons.
Já na contabilidade da safra nova (2020/2021), das 607 mil toneladas anunciadas, China arrematou 264,000 MT e possivelmente é a dona de mais 329 mil tons que foram confirmadas como destino desconhecido. Vide tabela no final da matéria.
Aqui acho válido destacar que China está em uma fase de recuperação da peste suína africana, precisando repor estoques para a produção de farelo e pode ter agido de forma estratégica. Frente a uma ameaça maior de cumprimento de embarques devido ao coronavírus intensificou compras, justamente em uma janela de embarques em que Brasil não conseguiria dispor: entre os meses de setembro a novembro.
Nessa semana, em entrevista à Agencia Estado, destaquei que tal cenário poderia ser diferente caso o Brasil tivesse condições de importar os grãos dos Estados Unidos uma vez que o Brasil apresenta condições logísticas de descarregar grão através do Porto de Rio Grande.
É fato que China não pode contar com a participação ativa do Brasil que já comercializou grande parte da safra 2019/2020 e tampouco com a Argentina tendo em vista o atual cenário político lá, no qual a origem não vende devido ao alto custo tributário.
Não preciso nem dizer que vãos para um final de semana em que o mundo continuará acompanhando o que acontece entre Estados Unidos e China. Aqui vamos seguir atentos pois tudo o que acontecer entre os dois países, impactará nos preços para a origem brasileira.
Um abraço
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